Deixe-me falar-lhe na Ana. É uma mulher atarefada, com várias esferas da sua vida às quais sente que tem de dar resposta – quer ser uma excelente profissional, fazer face às tarefas domésticas e de cuidado da sua família e estar feliz com a sua imagem. Tudo isto é feito à custa de muita preocupação e antecipação, para que nada a surpreenda.
A Ana gosta e sente que precisa de controlar as coisas, para estar segura e confiante de si. Detesta imprevistos e surpresas. Muitas vezes apercebe-se de uma tensão interna, algo que não consegue atribuir a nada específico, mas que não a deixa relaxar e viver o momento. Parece que um stress a vai preenchendo por dentro...
Cada vez mais triste e isolada, a Ana anseia controlar a ansiedade excessiva e calar as suas críticas internas. Queria tanto saber como sair desse estado e compreender a razão pela qual se sente assim, mas não sente a confiança necessária para o fazer sozinha.
Reconhece-se neste relato? O que é que contribui para criar esta experiência? E quais as ferramentas para a transformar?
O QUE LEVA À ANSIEDADE?
Neste tempo acelerado, muitos de nós, tal como a Ana, vivem num estado de sobrecarga de stress e de esforço de controlar 1001 variáveis ilusoriamente sob o seu controlo (e as outras também...). Dão consigo a pensar em algo do passado que fizeram ou acham que deviam ter feito, ou a antecipar o seu futuro, criando uma rede externa de segurança e previsibilidade que aparentemente acalma.
No entanto, são muitas vezes os seus próprios sabotadores, ao deixar de fazer algo pelo nível de exigência e expectativas irrealistas acerca dos resultados. O pensamento fica atordoado por uma constante ruminação acerca de variados cenários, irrealistas mas tantas vezes imaginados que vão sendo progressivamente aceites como verdadeiros. Estes “filmes” consomem muitos recursos e acabam por tornar ainda mais rígida uma leitura da realidade que é distorcida pelo medo e pela ansiedade.
A vida, para estas pessoas, pode ser sentida como um campo de batalha entre duas necessidades. Por um lado, desejam ser aceites, amadas, perfeitas, capazes, infalíveis – sobre-humanas!, condição para se amarem e se aceitarem a si mesmas, pelo que vivem desfasadas de si próprias e do seu presente, adiando as situações que levam ao confronto com a sua própria vulnerabilidade e humanidade; por outro lado, desejam profundamente desligar este alarme desgovernado que dispara sem razão real, e que acaba por influenciar a sua experiência interna e as relações com os outros.
Anseiam aceder a uma vivência de paz e descontracção, permitindo-se viver o momento e o prazer, usufruir da vida e não apenas projectá-la na mente. Muitas vezes não sabem como o fazer, remetendo essa possibilidade para um futuro qualquer. Enquanto a sua vida não for o seu mais importante projecto, vão mantendo a experiência interna de tensão e ansiedade.
Então, como controlar este alarme? Como regulá-lo para se activar apenas quando e se for necessário? E quem são os seus aliados nesta tarefa?
1º ALIADO – O SEU CORPO
Em vez de tentar controlar tudo, é mais eficaz ser selectivo e aprender a gerir o que realmente importa. Antes de mais, controle a respiração. Sabia que o seu corpo reconhece pistas como o ritmo a que respira e a cadência a que o faz, associando a respiração calma e lenta a uma diminuição da tensão muscular e da ansiedade? E que pode ensinar os seus músculos a relaxar?
Muitas vezes, na consulta de Hipnose Clínica, é por aí que começamos a instalar a calma e tranquilidade necessárias para as mudanças construtivas. Na nossa vida, muita da nossa realidade é condicionada e resulta de escolhas nossas – então será essa a primeira escolha, respirar lenta e profundamente, preparando o corpo para uma diminuição da tensão e deixando que o relaxamento físico se instale progressiva e agradavelmente.
Assim, poderá aceder a um estado tranquilo e adequado para trabalhar os seus pensamentos, crenças e memórias. É que a resposta física de relaxamento é incompatível com um estado de tensão. O nosso corpo e a nossa mente são um todo e juntos podem efetivamente potenciar o nosso bem-estar global.
2º ALIADO – O SEU PENSAMENTO
Com este aliado, é importante ser verdadeiramente selectivo – alimente o seu espaço mental com os pensamentos que lhe fazem bem, os que o ajudam a seguir em frente e a agir em consciência. Os outros pensamentos são só isso mesmo, pensamentos. Ficar frustrado ou triste com eles é como recusar-se a aceitar o vento ou a chuva. Eles fazem parte da realidade e rejeitá-los só os aumenta e reforça, pois limita o acesso a outras experiências de prazer e satisfação pela atenção que lhes atribui e pelo desgaste dos seus recursos internos.
Portanto, poderá focar-se em pensamentos que sejam fonte de segurança e confiança realista, aceitando os outros e deixando-os ir. O seu foco e atenção alimentam a sua experiência e pode escolher quais os pensamentos com que quer desenvolver a nossa vida.
Às vezes os pensamentos que trazem ansiedade provêm de experiências do passado. São uma espécie de lentes, uns “óculos” que moldam os acontecimentos, tornando a percepção deles como meras repetições de experiências anteriores e levando à interpretação errónea de que nada pode mudar.
E como seria se esses óculos mudassem? Muita da narrativa interna se transformaria e sairíamos do “Nada a fazer...” para a esperança e responsabilidade do “É possível!”.
Repare como o foco está na possibilidade e como esse pensamento é profundamente transformador em si mesmo. Ajuda-o a avançar da paralisação rumo à acção focada, com realismo e tolerância por si mesmo. Na verdade, está a fazer o melhor que consegue com o que sabe... e é sempre possível aprender mais acerca de si próprio.
3º ALIADO – AS SUAS EMOÇÕES
Os pensamentos e memórias trazem consigo emoções que, quando são difíceis de gerir, levam a uma maneira de ver a vida muito aquém das reais possibilidades. Quando as emoções não são compreendidas e postas em pensamento, ficam por elaborar e manifestam-se como sensações ou impressões vagas no corpo, associadas a prazer ou desprazer. Todo este sistema interage e se associa para gerar a experiência total. Como mudar o que não reconhecemos?
É, pois, necessário dar nome ao que sentimos, para o pensamento nos ajudar a identificar a emoção e para nos darmos conta se esta é ou não saudável e ajustada à situação. No fundo, trata-se de reconhecer para ir processando e moldando a nossa experiência, percepção e comportamentos.
Quando aprende a reconhecer um sentimento e o seu significado, está a permitir-se criar toda uma série de possibilidades. De repente sentir aquilo já não é intolerável, é um sentimento que sinaliza uma experiência que podemos ou não querer repetir e que conseguimos pôr em palavras, comunicar e partilhar com os outros, ajudando-nos a dar-lhe sentido.
Libertarmo-nos da ansiedade a mais implica muitas vezes o poderoso exercício de aceitação do passado e de curiosa imaginação face ao futuro. A aceitação da realidade tal como ela é, naquilo que não é possível a cada um mudar, a compreensão e ressignificação das experiências pessoais anteriores e a colocação de objectivos realistas para o futuro permite que cada pessoa se aproprie das suas escolhas e que possa agir em conformidade com elas, sentindo-se em paz consigo. O foco no futuro que deseja ajuda também a definir os passos necessários para trazer à realidade a sua visão.
No fundo é isso que geralmente buscamos – a sensação de tranquilidade interna que nos permite viver o momento presente, em paz connosco e com os que connosco partilham a vida. Tal permite-nos reconhecermo-nos no que fazemos, na forma como damos significado às nossas experiências e ajuda-nos a encontrar e utilizar os nossos recursos naquilo que nos faz sentir bem.
Somos verdadeiramente os únicos responsáveis por trazer à nossa realidade as sensações, pensamentos e emoções que nos movem e motivam em direcção ao que desejamos.
Tanto a Psicoterapia como a Hipnose Clínica são ferramentas poderosas que poderá aplicar na construção desta experiência, tantas vezes desejada e sonhada e que provavelmente foi remetendo para um futuro qualquer. Agora é o tempo de se dar paz, confiança e de se tornar a sua prioridade.
Marque a sua consulta e dê os seus passos neste caminho, rumo a uma vida de confiança, tolerância realista e mudança construtiva.
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